Sem dúvida, o flagelo do desemprego está a assolar cada vez mais o mundo em geral, e Portugal em particular.
Um dos maiores desafios de qualquer economia salutar é arranjar forma de fazer o capital circular, verificando-se actualmente o acumular excessivo de capital em pequenas partes da sociedade, em detrimento da escassez da restante maioria da população. Ora, isto provoca naturalmente uma paragem na circulação do capital, já que os mais atingidos – famílias das classes média, média-baixa e baixa – deixam de poder fazer face aos compromissos a crédito, assim como, em certos casos, à aquisição de bens essenciais. Isto tem vindo a acumular-se sucessivamente, sobretudo desde 1991, altura em que se negociou erradamente o valor do escudo face ao euro, agravando-se acentuadamente a partir de 1995, altura em que se perdeu definitivamente a confiança no mercado português.
Qual a solução? É urgente valorizar o factor trabalho! Nunca se pagou tão pouco pelo trabalho, seja ele qualificado ou não. É impensável que dentro da União Europeia hajam tantas discrepâncias económicas do ponto de vista salarial, com “castigos” fiscais tão díspares que variam de país para país, para quererem aplicar a mesma política económica comum a todos os Estados-Membros. Saint-Simon, nos inícios do século XIX, fez uma parábola sobre a visão trabalhista da sociedade, que dizia se pegarmos na classe intelectual e os mandássemos ao mar, o país continuaria, pois da classe trabalhadora novos valores intelectuais emergiriam. Mas se pegássemos na classe trabalhadora e os mandássemos ao mar, o país parava. Isto ajuda a perceber a extrema importância da classe trabalhadora, assim como da necessidade de coexistirem trabalhadores e intelectuais.
Não é admissível que um(a) trabalhador(a), numa fábrica, numa oficina, na construção civil, onde quer que seja, muitas vezes correndo riscos elevados de vida (porque nem sempre as empresas fornecem as melhores condições de segurança para a execução do trabalho) possa auferir o ordenado mínimo, e o seu chefe de departamento ganhe 3,4 ou 5 vezes mais, quando muitas vezes nem tem a performance profissional adequada para o seu lugar. Se existem quadros médios claramente mais eficientes do que os seus superiores, como podem sentir-se motivados para trabalhar sabendo que recebem três, quatro ou cinco vezes menos que quem, no fundo, acaba por receber indevidamente os louros do seu trabalho? Como podemos sentir motivação para trabalhar em Portugal quando um ordenado de mil euros é visto como um ordenado mediano, e noutros países dentro a Europa e da União Europeia, profissões mais humildes podem auferir quase o dobro, com o dobro das regalias sociais?
Urge que os principais economistas da nossa praça consigam fazer entender aos nossos legisladores políticos que é imperativo pagar mais e melhor, para garantir uma melhor circulação de capital.
Muitos académicos e economistas poderão dizer que esta medida traria mais despesa e ninguém quereria ir para a faculdade. Falso! O que é preciso é haver uma interligação entre Ensino Secundário, Ensino Superior e Mercado de Trabalho, no sentido de explicar aos jovens que mercado de trabalho existe no seu país e no seu continente, para que cada uma faça a sua escolha, havendo um acompanhamento constante dessa evolução, salvaguardando assim que se continue a formar pessoas nas áreas que o mercado de trabalho mais necessita, para no caso de haver excedente de profissionais qualificados e não qualificados em certas áreas, poder fomentar-se a livre circulação de trabalhadores dentro da União Europeia com mais segurança e eficácia.
Quanto ao trazer mais despesa também é um argumento falacioso, pois tal deveria ser encarado como um investimento, já que qualquer trabalhador que disponha de capital, ou consome (garantindo a circulação salutar de capital na economia) ou coloca em poupança (garantindo a existência de capital nos mercados financeiros).
Aumentar a confiança dos Trabalhadores, Justiça mais solidária e célere, diminuir o fosso do dualismo económico, apostar na formação profissional como um Direito inalienável, são alguns dos caminhos a seguir para recuperar a estabilidade económica.
Frise-se ainda que urge reorganizar a sociedade de forma a criar pontes entre escolas secundárias e ensino superior, entre escolas secundárias e mercado de trabalho e entre ensino superior e mercado de trabalho, para mudar culturalmente uma sociedade, que actualmente, vive mais à base da desinformação do que da informação ou da formação.
É que, quando o Sábio aponta para a Lua, o tolo olha para o dedo…
Núcleo dos Trabalhadores Social Democratas de Caldas da Rainha