quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Artigo de Opinião Vice-Presidente da Distrital dos TSD Leiria. "Gestão do Talento".

Os recursos humanos de Portugal, força viva de um Portugal viável, estão em crise, desmotivados e pouco preparados para competir na aldeia global.



Segundo os dados do Eurostat, Portugal atingiu em Junho deste ano 11% de taxa de desemprego, marca histórica do Portugal democrático.

Esta taxa de 11%, com tendência de subida, não apenas nos deveria preocupar, mas antes tirar o sono colectivo em que estamos febrilmente mergulhados. É necessário reflectir nas razões desta hecatombe social e no que foi feito, e no que não foi feito, pelos governos socialistas. As coisas não acontecem por infortúnio. Existem responsáveis, que não são mais que os actuais irresponsáveis que governam uma nau agora sem rumo e sem tino! Portugal não se preparou para o inverno dos tempos globais, e, qual irresponsável cigarra ao ritmo do mau exemplo dos seus lideres políticos, descansava sossegada na praia naturista do deixa andar. O Inverno dos Tempos chegou ao pântano em 2008 e teima em não abrandar os seus gélidos ventos mundiais. Na verdade a cigarra já estava condenada por anos acumulados de viver num pântano de incompetência sendo que estas crises só evidenciaram as nossas dificuldades escondidas por entre dados estatísticos! Como disse o Sr. Presidente da República, há que falar verdade no que diz respeito ao emprego. A situação é critica e não se resolve com engenharia contabilística. Resolve-se com verdade e com vontade.


Portugal necessita compreender que só poderá inverter esta traumática tendência, apostando na qualificação dos trabalhadores e dos empregadores.


A qualificação profissional deve, por isso, ser mais que uma prioridade. Deve ser uma responsabilidade de cada indivíduo e de cada organização. Deve ser ousada e abranger responsavelmente tanto quem executa como também quem dirige as estruturas de uma organização. O país está pejado de empresas falidas por falta de visão e de qualificação de muitos empresários, minimalistas e pouco sensíveis ao capital humano.


A esta evidência, que é necessário inverter urgentemente, junta-se uma preocupante e deficitária qualidade de muitos gestores de recursos humanos, cuja gestão, em muitos casos danosa da qualidade humana das suas organizações, evidenciam fraca capacidade de identificação e desenvolvimento das potencialidades dos seus colaboradores depreciando assim quer o valor da sua organização, quer a margem de manobra operacional do empresário ou do accionista, quer a motivação e potencial realização profissional dos seus colaboradores. Um verdadeiro ciclo vicioso.


Como lamentavelmente sabemos, existem execráveis gestores, pouco inteligentes e pouco sensíveis ao potencial humano das suas organizações, recorrendo, entre outras habilidades, a esquemas imorais de contratação em regime de outsourcing. Desejam reduzir custos substituindo a formação e o trabalho qualificado dos seus quadros por esquemas e expedientes contratuais. Para além da sua inépcia como gestores de capital humano, contribuem activamente para os problemas estruturais das suas próprias empresas e consequentemente para o insucesso da nossa região e do nosso país.


Os TSD distritais estão sempre atentos e saberão, oportunamente, denunciar publicamente estas aberrações e dirigir-lhes directamente, e publicamente, a sua quota de responsabilidade para as consequências da prática continuada dos seus actos.


Não menos verdade, muitas empresas estão em estado terminal pela falta de qualificação de muitos colaboradores que obstinadamente, e irresponsavelmente, resistem à qualificação e preferem ver a empresa submergir lentamente na insolvência que ganhar coragem e se disponibilizarem em se valorizar, valorizando por consequência a sua empresa e a sua carreira. É necessário interiorizarmos que a formação não é um entretenimento ocupacional mas sim uma oportunidade de fazermos o Futuro. O problema de muitas organizações reside na fraca gestão e desenvolvimento dos seus talentos. É necessário perceber que neste mundo cada vez mais informado e pró-activo, a força dos povos não vai estar mais na força do braço, mas na destreza da mente e na correcta gestão do conhecimento e do talento.


Um dos maiores exemplos actuais da eficácia da gestão do talento nas organizações é o treinador português José Mourinho. José Mourinho não é um treinador milagroso ou apenas um líder nato, mas antes um construtor de homens que sabe desenvolver, motivar, engrandecer e recompensar os seus recursos humanos desenvolvendo-os até limites inimagináveis numa perspectiva de WIN-WIN. É um dinamizador de carreiras. A sua carreira é a consubstanciação do sucesso desta sua capacidade de gerir o talento e a ambição legítima dos seus colaboradores. Possui por isso quer o respeito, quer a admiração dos seus jogadores, ex-jogadores, colegas e dirigentes, seguindo-o até a onde a sua ambição e “auto-desafio” o levar. É desejado por todos os clubes do mundo e o seu país aponta-o como um exemplo de sucesso que outros portugueses deviam seguir. A sua forma de trabalhar evidência um ciclo virtuoso.


Portugal enfrenta, em circunstâncias particularmente difíceis, uma crise financeira, económica e uma crise de valores. O trabalho e quem trabalha deve por isso ser protegido, valorizado e respeitado.


Portugal não sairá destas crises se não entender o valor do trabalho e de quem trabalha.


Portugal necessita pois de uma urgente cultura da valorização do trabalho, e da sociedade de trabalho, onde, no seio da cultura empresarial pública e privada, se criem efectivas oportunidades de realização profissional e partilha comum de objectivos de Vida e de objectivos profissionais. É necessário que o trabalho e o esforço diário tenham um verdadeiro significado e sentido para além da sobrevivência. É urgente acabar com a monotonia de expectativas que tantos portugueses sentem no desempenho das suas actividades profissionais. Há que criar espaço motivacional para o desenvolvimento de indivíduos profissionais que participem activamente dos objectivos das suas empresas e assim possam evidenciar o seu empenho e a sua capacidade de resposta. É necessário que as empresas partilhem os seus valores e objectivos junto dos trabalhadores. É necessário os trabalhadores sentirem-se, eles próprios, parte dos resultados e sucesso desses mesmos objectivos. Finalmente é necessário que todos os Portugueses estejam verdadeiramente motivados nos seus postos de trabalho para poderem ser a engrenagem poderosa do motor que tem de afastar definitivamente esta colectiva desmotivação que os assola, bem como o descrédito colectivo num futuro melhor e mais próspero.


Há um caminho de gerações a fazer e que lamentavelmente não foi feito nem pelos sucessivos governos nem pelos cidadãos. A preparação escolar é a raiz da qualidade da sociedade do trabalho.


Deverá ser feita uma profunda reflexão estrutural ao papel da escola na formação de uma sociedade viável, interessante, empenhada, credível, qualificada, exigente consigo própria, e onde o indivíduo se possa realizar enquanto cidadão e enquanto futuro profissional. Propõe-se uma escola de qualidade, exigente e rigorosa mas, ao mesmo tempo, entusiasmante e integrativa, orientadora de talentos. Propõe-se um papel mais activo e responsável das escolas públicas no oportuno apoio na identificação vocacional dos jovens antes das grandes escolhas curriculares e consequentemente na sua preparação para a entrada no mundo laboral. Propõe-se a reflexão no conceito Empresa-Escola.


Acrescente-se um investimento credível - a longo prazo - na preparação da profissionalização vocacional, acompanhada de constante formação de qualidade. Para isso os professores devem sentir que o seu trabalho constitui efectivamente uma influência quer na valorização do aluno, quer na sua formação como individuo que se prepara para dar o seu contributo a uma sociedade que tem de ser obrigatoriamente muito diferente da actual.


Escola/Cidadania/Trabalho.


Os trabalhadores são por tudo isto uma das partes desta equação; As empresas, o estado e a comunicação social são mormente fundamentais para esta urgente mudança de cultura da nossa sociedade de trabalho que se deseja mais respeitada e mais respeitável.


                                 José Rui Pires
Vice-Presidente do Secretariado Distrital dos TSD Leiria